Lembro-me que li, em algum lugar, “que o trabalho pode esperar enquanto a gente mostra às crianças um arco-íris, mas que o arco íris não vai esperar enquanto a gente trabalha”. Sabem, é por isto, também, que uma menina de 16 anos foi estuprada por cerca de 30 homens. Nós hoje temos pouco tempo para mostrar o arco-íris para os nossos filhos! Impressionou-me muito este estupro de uma adolescente por cerca 30 homens! Mas me impressionou mais, muito mais, saber que há 30 homens, em uma comunidade, capazes de estuprar uma menina! São 30 marginais, canalhas e covardes assim tão perto um do outro, cada um encobrindo a sanha assassina do outro, pulhas sujos e dignos de prisão perpétua, que com certeza nunca viram um arco-íris.
Depois deste episódio macabro, neste nosso “Rio de Janeiro hipócrita, corrupto, falido e olímpico”, eu tenho a certeza de que a luz da esperança retornou ao Céu. Não merecemos nem festas nem jogos olímpicos, nós deste Estado sem segurança, sem saúde, sem educação e sem salário. E para piorar, somos agora o Estado Olímpico que deixou 30 homens estuprarem uma menina!
Só nos resta, aos homens de bem, pedir desculpas a todas as mulheres, porque não havia um homem sequer para defender uma menina; e às mulheres só resta sentar e chorar solidárias com aquela menina.
Estou sentado escrevendo, minha pessoinha não humana Babalu ao meu lado. Estou ouvindo a música “If” aqui no meio do mato, onde a paz e o silêncio são meus companheiros inseparáveis. Tenho, cada vez mais, me sentido com cada vez menos esperança em tudo, e observado que a luz do fim do túnel só se afasta, quase se apaga. E como na música “If”, se o mundo resolvesse girar cada vez mais lentamente até morrer, eu gastaria os meus momentos finais aqui nesta solidão que me preenche, me afaga e me consola, bem longe destes homens que me enojam e me envergonham. Mas, como este mundo cruel que criamos e alimentamos não vai tão cedo se acabar, hoje, depois que a última estrela no céu se acender, eu vou correndo em sonhos até ela, e vou pegar nas mãos desta menina que ajudei por omissão a estuprar, e vou voar com ela para o espaço infinito, para algum lugar bem longe, bem distante daqui.
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